domingo, 7 de novembro de 2010

Arch Enemy: "Dead Bury Their Dead"

(ou Redenção)
I leave the anguish behind
Scars are healing - I am set free
The chains of guilt are in the past
They no longer have a hold on me

Dead bury their dead

I walk through Elysian Fields
The light is shining on me

Dead bury their dead

Time marches on...

Dead bury their dead
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E assim, os mortos são enterrados.

Querido Diário

(ou Arrogância, Onipotência e Mediocridade em 1998)


[Tristania: "My Lost Lenore"]

Querido diário, hoje eu vi uma menina... ai, tão bonita! Ela usava óculos e uma blusa preta, com uma faixa amarela e outra vermelha! Eu adoro essas cores! Ela parecia bem inteligente, e eu adoro meninas inteligentes! Eu acho que elas são diferentes das outras meninas que só querem ser cópias umas das outras... Ai, eu acho isso tudo tão sem graça, sabe? Aí, eu respirei fundo e fui conversar com ela! =) Mas ela era igual às outras meninas... =( (minha mãe deitou na cama agora, do lado da janela. O sol bateu na camiseta amarela dela e agora a casa tá toda amarela! Uma vez eu falei disso, sabe, esses negócios de ótica, pro meu pai, mas acho que ele não se interessou muito...).

[Sigur Rós: "Hafssól"]

Ai, então, eu tava falando da menina, né? Então, ela também queria ser igual a todas aquelas outras que só falam besteira, tiram sarro de todo mundo na escola, se acham as mais bonitas e são populares com todos os caras idiotas. Ela só não conseguia. Eu não entendo como uma pessoa pode ter tudo pra ser legal e ainda assim querer ser medíocre (uma vez, usei essa palavra, junto com "olor" em uma redação. A professora escreveu que estava errado. Ai, eu fiquei com tanta raiva dela! Como ela pode ser professora de português e não saber o que é "olor". Só porque eu não tenho curso superior que nem ela, eu tenho que ser burro??? Eu tenho que ser "beócio"??? Na próxima redação, vou usar "verossimilhança", e quero ver a professora falar que essa palavra não existe!!!).

[Orquestra Brasileira de Música Jamaicana: "Ska Around the Nation"]

Eu acho que sei porque ela quer ser que nem as outras meninas. Elas estão sempre rindo, mesmo que seja de alguém. Que nem os caras que nem sabem a diferença entre física, química e biologia, eles estão sempre rindo, porque acham tudo engraçado. Desrespeitam os idosos, mentem, são preconceituosos e machistas, e acham tudo legal. O mais incrível é que até as meninas acham isso legal. Eu não entendo! Juro! Mas tudo bem, que os medíocres se juntem, sejam mediocremente felizes e tenham vários mediocrezinhos para povoar mediocremente o mundo. Quando eu falei isso para a professora de educação física (ela veio me perguntar por que eu não jogava com os outros na aula e eu disse que eles me davam nojo), ela disse que eu me achava "onipotente". Antes eu me achar onipotente que ela ser "omni-estúpida", né? Mas, onipotente ou não, eu fiquei triste pela menina. Será que vai ser assim com todas? Elas com os "pequenos-homens", enquanto eu permaneço eternamente o "grande-menino"?

[Lacrimosa: "Schuld und Sühne"]

Perguntei pro meu pai sobre essa história de "homem crescido", e ele mandou eu "parar de frescura". Acho que esse deve ser o primeiro passo para ser "homem crescido"; parar de frescura. Cada vez mais eu vejo que o "mundo" é formado por gente repugnante. Eu acho que, se tem tanta gente que eu não gosto, o problema deve ser comigo. Mas se, para que as pessoas gostem de mim, para ser simpático e popular, eu precise ser um beócio que nem os que estão ao meu redor o tempo todo, eu prefiro ser o chato, arrogante, esquisito, aberração e "onipotente".

[Ordo Rosarius Equilibrio: "Harvesting the Crop, the Chaste Veredict of Negligence"]

Tá tarde. Tenho alguns capítulos de Reis para ler. Tá acabando!!! Boa noite!!!

[Lacrimosa: "Copycat (Extended Version)"]

Diário de guerra de Allan Mor.

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Retirado de um antigo diário e postado a título de reflexão. A assinatura usada é referência à minha primeira banda falida, Mor T.L.S., cujo nome não representa absolutamente nada
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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Resoluções Sagradas II.

(ou "Viver é melhor que sonhar" - Elis Regina)
[2525]
Mágico. Não se pode fugir. Nada conspirava para o acontecido. Era uma noite extremamente fria em São Paulo, termômetros marcando 10°C. Na realidade, poucas pessoas suporiam abandonar suas felpudas cobertas naquela noite. Mas a efêmera presença de um grande companheiro neste Estado me levou a repensar a possibilidade e ir rumo ao desconhecido naquela noite. Descemos do ônibus e eu (que não trajava meu habitual uniforme noturno, munido de cabeça raspada, coturnos e suspensórios; mas sim, me assemelhava a algum designer gráfico, mesclando terno, gravata e calçados não-convencionais) ouvi, ao longe, meu nome. Uma voz de contralto...
[Final Countdown]
Minha miopia me deixou em dúvidas, mas minha apurada audição não deixava espaço para perquirições. Era ela. Com seus olhos, por detrás daqueles novos óculos que eu adorei, iluminados pelas mesmas estrelas. Com o mesmo sorriso indescritível que me deixa sem fôlego e sem saber o que pensar. Com aquele abraço que, por mim, duraria a noite inteira. A vida inteira se possível! A eternidade, se satisfeitos meus anseios!!!
[Alle Gegen Alle]
Dúvidas se desfazem, e deixam espaço para algo maior que a amizade e a saudade, e diferente de qualquer expectativa. É algo que não sei o nome. "É algo que só sei sentir". É diferente do que existiu em 2008, mas é lindo. Igualmente lindo. Trazer esta nova pessoa para minha nova vida é uma nova experiência que me faz saborear um novo receio, mas eu sigo. Um juramento foi feito. Um juramento que galáxia alguma poderia quebrar. E este novo eu quer saber o que é a nova ela.
[Mars on River Drina]
Ela dança em meus sonhos.
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Escrito ao som de NATO, álbum de 1994 da banda eslovena Laibach.
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PS: Este post será formatado conforme o padrão que vem sendo seguido neste blog, assim que meu computador colaborar.
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PPS: Cansei. Não vou formatar porra nenhuma. Grato pela compreensão.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Resoluções Sagradas.

(ou Sobre a Ilusão)

[Luis Miguel: "Nos Hizo Falta Tiempo"]

Passou, não é? Ou não? De verdade, eu francamente não sei. Hoje seria o dia de saber se ela ainda me faz tremer, mas algo me fez evitar tal encontro, que, talvez, sequer viesse a ocorrer. Seria medo? Quem sabe? Apesar da carranca que carrego, às vezes me permito um voto de confiança aos traços de humanidade que existem em mim.


[Einstürzende Neubauten: "Haus der Lüge"]

Mas analisando friamente (Carranca - leitor. Leitor - carranca. Apresentações feitas, retornemos), vejo que não, não é medo. É algo relacionado à sacralização. O que tenho, dentro de mim, por ela, é e sempre foi algo tão bonito! "Rebaixá-la" à condição de ser humano, igual a qualquer outra, provavelmente faria com que as estrelas que iluminam aqueles olhos por detrás daqueles óculos que eu adoro se tornassem foscas. Levaria aquele sorriso a tomar traços de modelo anoréxica modificada em Photoshop. Transformaria aquele abraço que sempre me deixou sem palavras em mais uma burocracia de amigos. E isso, assumo, me assusta. Muito.

[The Mission UK: "Severina"]

Em minha preocupação pela forma de minhas produções textuais, me vejo na necessidade de descrevê-la. Talvez, algum dia, eu trate esse meu TOC literário. Pois bem: Uma suave voz de contralto; mãos pequenas; uma timidez que esconde idéias envolventemente encantadoras, de alguém que largou a segurança da profissão rentável pelo amor à educação; as tatuagens mais únicas... E se eu não me editar, este parágrafo facilmente ultrapassará o limite de linhas contido em tua paciência, prezado leitor.

[The Cure: "Cut Here"]

O fato é que ela está desfilando bela e formosa no campo das idéias. No campo da saudade que, a despeito de incontáveis mensagens, não creio que há de se desfazer, por ser igualmente bela. Existe uma "saudade Romântica". E, haja protestos ou o bom e velho "arrependa-se somente do que você tentou", eu ainda considero muito mais proveitoso o deleite dos pensamentos e das lembranças. Não quero vê-la. Não quero atualizar minhas memórias para algo que, talvez, possa não me encantar tanto quanto aquela camiseta laranja de dois anos antes...

[Joy Division: "Decades"]

E assim é. Este sou eu, despido de pudores e valores, me permitindo o direito à ilusão e ao entorpecimento, que tantas vezes são muito mais belos que a realidade.

[Spice Girls: "Spice Up Your Life"]

Criança das estrelas.
Um bebê nascido do paraíso.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Venero-te. Renego-te.

(ou "O mistério do amor é maior que o mistério da morte." - Oscar Wilde)

“Eu posso ver claramente agora – uma visão, de fato, dolorosa.”
Iced Earth: “The Prophecy

[L'Homme Revolte]


O mundo fala a respeito dele. Ocorre desde tempos imemoriais sua banalização, embora eu não saiba se, em algum momento da História ele teve a importância e o tratamento “corretos” (se é que isso existe). As infinitas e incorrigíveis tentativas de universalização do pensamento, sentimento e do ser costumam tomá-lo como a verdade absoluta. Ele é o clichê mais tradicional já criado, o que me leva a ponderar acerca de seu aparecimento entre minhas palavras, geralmente carregadas de uma agressividade que me é cara. Mas se a quebra de paradigmas se torna uma necessidade da qual não se pode fugir, paradoxalmente, essa quebra se torna outro paradigma. Logo, que se quebre o paradigma paradoxal. E que, contra qualquer expectativa de quem acompanha minhas palavras, parafraseie eu o “Excelentíssimo Síndico” Sebastião Rodrigues Maia: “Vamos falar de amor.

[Le Chatiment du Traitre]

O amor me é sagrado. Beatifico, canonizo e deifico-o. Tal divindade, por sua divindade, é envolta em perfeição. Eis o início de todos os problemas. Qual seria a taxa de mortalidade de um amor perfeito em humanos imperfeitos? É difícil imaginar, de forma racional, a perfeição. Somente quando arrebatados pela insânia patológica tal idéia (acompanhada por outro ser mantenedor de tal patologia) parece fazer algum sentido. E como não há verdade na universalização (é verdade, juro), eu me limito à análise, somente.

[L'Assassin]

“Você acredita em amor? Você acredita em destino? O amor verdadeiro só pode vir uma vez em mil vidas. Eu já amei. Tomaram-na de mim. Rezei por sua alma. Rezei por sua paz.” – Drácula de Bram Stoker me leva a crer n’um amor próximo deste que tenho por sacro. Tão sacro que parece se manchar com as imperfeições da humanidade. Mantenhamo-lo nós livre, portanto, deste claustro da carne e suas impurezas que tanto nos divertem. Por que não? Por que crer (a pergunta sem resposta daquele que paradoxalmente tem como maior crença a “não-crença”) em sua associação com raiva, ciúmes, posse, dor e outros sentimentos, sensações e reflexos do lobo temporal tão possivelmente desagradáveis? Por que não simplesmente admirá-lo como o pássaro livre de nossas culpas (nossas tão grandes culpas)? Parece existir a necessidade novamente patológica de tomá-lo entre nossos braços, olhos, coxas e sentidos, para que quando ele finalmente morrer, haja provas de sua vida (algo próximo do que Guimarães Rosa falou). O saber e o sentir não são suficientes? Há de fato o dever para com a prova? O barbudo da Galiléia tentou explicar sobre isso, se não me falha a memória (faz algum tempo que não visito aquelas bandas), mas infelizmente parece ter falhado.

[Les Deracines]

Neste ponto, caro leitor, deves pensar que mais uma vez, como já lhe deve ser comum, a arrogância tenha me tomado de assalto. Não te culpo por pensar assim. Não sou muito bom em transmitir o que penso de forma simples, por meu pensar não me ser simples. Todavia, se crês que me relativizo à perfeição deste amor que sacralizo, erras. Sou tão imundo quanto o resto da humanidade, e com ela devo ser destruído se, algum dia, esta divindade de fato exercer seu poder e dominar este mundo. Este “Amor-Perfeito”.

[Le Vertige du Vide]

Porém, esta é a visão do amor perfeito. O amor sagrado. O amor que vagueia pelas minhas idéias e já visitou meus outros sentimentos. O amor que morreu no abismo entre o coração e a mente. E, deste amor, mantenho a distância sagrada, referente ao respeito entre o fiel e seu deus. Ele não mais me toca (ou eu não mais creio na ilusão de seu toque), e a minha busca por perfeição tomou rumos diferentes da dele. Talvez porque se “há tantos loucos com tantas verdades”, deve haver uma verdade que me sirva. Uma verdade diferente desta sacralização cega. Uma verdade cheia de imperfeições que me façam mais rir que chorar.

[Les Exigences de la Foi]

Ou,
se em improvável desespero,
talvez uma mentira.

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Escrito há muito tempo, e re-editado o som de Nos Chants Perdus, álbum de 2010 da banda luxemburguesa Rome.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A Seqüência do Pecado

O fato é simples. Havia um texto sensacional aqui, com o título acima. Doloroso e pungente. E a arrogância, de fato, me toma ao avaliá-lo. Todavia, o Blogger me odeia e esta é a quarta ou quinta criação que simplesmente DESAPARECE. Sim, os textos têm desaparecido sem deixar vestígio algum em área de transferência, rascunhos ou qualquer outro local da rede. Então, declaro que somente voltarei com minhas infrutíferas tentativas de postagem quando meu computador estiver em boas condições. Agradeço às visitas (Day, Dita, Jaya, Naná, Manda, Pri, Marcão, Mi, Lucas e quem talvez tenha visitado este Hzeronove, mas não tenha se identificado) e espero ansiosamente pela boa vontade deste servidor que esgotou as últimas gotas de minha consideravelmente grande paciência.
Até o retorno.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

1962 - 2010

(Ou Relação Metalingüística com "Everything Dies")

É com grande tristeza que informamos que o baixista e frontman do Type O Negative, e nosso companheiro de banda Peter Steele faleceu ontem à noite do que parece ser uma insuficiência cardíaca.

Ironicamente Peter vinha desfrutando de um longo período de sobriedade e melhoras de sua saúde, e em breve deveria começar a escrever e gravar músicas para o nosso próximo álbum, sucessor de "Dead Again" lançado em 2007.

A causa oficial de sua morte ainda não foi determinada, em pendência dos resultados da autópsia. Os serviços funerários serão privados e serviços de memorial serão anunciados em data futura. Gostaríamos de compartilhar nossos pensamentos e os da família de Peter abaixo.
Estamos realmente entristecidos por perder nosso amigo e apreciamos o tremendo derramamento de lágrimas ao redor do mundo hoje.

Sinceramente,

Josh, Kenny & Johnny.



Traduzido livremente do site oficial da banda,
acessado em 15 de abril de 2010.

[Black N°1]

Sem pudor algum para evitar elucubrações poéticas, me permito simplesmente despejar sentimentos de forma livre, como em um imaginário brainstorming dadaísta. Primeiramente, para a compreensão de minha enxurrada sentimental, creio ser necessário um breve histórico acerca da figura principal a quem tal texto se refere: Peter Steele.

[Christian Woman]

Peter Steele, nascido Stalin (posteriormente Petrus e, finalmente, Peter) T. Ratajczik em 4 de janeiro de 1962, no Brooklyn, bairro de Nova Iorque, EUA, foi um dos músicos mais influentes na cena do Metal mundial da década de 1990. Descendente de russos, escoceses e poloneses, o baixista, vocalista e principal compositor do Type O Negative influenciou 9 entre 10 bandas do chamado "Doom Metal", mas sempre mantendo seu som com personalidade, força e, sobretudo, sentimento. O 3° álbum do Type O Negative, "Bloody Kisses", de 1993, recebeu disco de platina, elevando a banda a níveis de sucesso inimagináveis para qualquer egresso da marginalizada cena Hardcore/Punk/Thrash Metal do Brooklin. E em 15 de abril de 2010 é confimada sua morte, para tristeza de inúmeros fãs, como eu, que, ao longo de tantos anos, vêm tendo grande admiração por seu irrepreensível trabalho.

[The Glorious Liberation of People's Technocratic Republic of Vinnland by the Combined Forces of the United Territories of Europe]
Receber uma mensagem SMS com a frase "Peter Steele morreu" me fez refletir sobre a efemeridade do que de fato apreciamos. O que leva o indivíduo a projetar em ídolos, tão humanos quanto ele, tal adoração? No meu caso, é possível dizer que me via nas letras, e o som parecia falar diretamente com minha alma. Ouço a banda desde 2000, minha identificação musical e lírica sempre foi muito intensa, e imaginar que ver tal show, ou cantar junto com Peter (que sempre exerceu sobre mim grande influência como baixista, vocalista, letrista e modelo de hipertrofia muscular) letras que me fizeram poderar sobre meu modo de viver, pensar e agir, causa imensa tristeza. Por quê? Seria necessário um luto infindável, para que aqueles que não compreendem (e talvez jamais venham a compreender) como é possível que algo tão simples como a música possa mudar a vida de um indivíduo, venham a caçoar e ridicularizar? Neste momento, perdão, mas palavras oriundas de mentes & corações ignorantes não me importam.

[Unsuccessfully Copying With the Natural Beauty of Infidelity (I Know, You're Fucking Someone Else)]
Me importa parar e ouvir saudosamente tantos discos com capas pretas & verdes que eu, aos 15 anos de idade, juntava um suado dinheiro para garimpar nas lojas do centro de São Paulo. Me importa aquela inconfundível seqüência de Mi, Sol, Si & Lá, tocada ao contrabaixo, e fazendo a platéia gritar alucinadamente "BLACK! BLACK! BLACK! BLACK NUMBER ONE!". Me importa o orgulho estúpido que tenho de meu sangue ser Tipo O Negativo. Me importa relembrar como sorri com a alma naquele 14 de outubro de 2001 (e não como chorei no dia 14 de abril de 2010), ao comprar meu primeiro álbum deles, o clássico e já citado "Bloody Kisses", pela bagatela de R$ 14,00. Me importa imaginar como fiquei curioso ao ver aquele estranho desenho na camiseta de um rapaz ao atravessar a ponte Jurubatuba n'uma tarde de sábado em 1998, e quis saber do que se tratava. Me importa como eu achava incrível a simplicidade dessa banda, e em especial, desse vocalista, que só usava quatro cores: Preto, branco, cinza e verde. E como achei que White Stripes havia copiado tal idéia de utilizar somente preto, branco e vermelho deles. Me importa em saber que, assim como Ramones & Los Hermanos, a banda acaba (não, Type O Negative não pode voltar com outro baixista, vocalista, líder e ícone musical para tentar substituir Peter) em um bom momento, em vez de tentar se reinventar lançando álbuns cada vez piores, repetitivos e sugadores de dinheiro de fãs, como o fazem certas bandas britânicas, australianas e de Nova Jersey que prefiro não citar...

[IYDKMIGTHTKY (Gimmie That)]

Então, resta admirar a arte linda feita por esta grande (literalmente) personalidade, a despeito de sua vida pessoal, problemas com polícia, álcool e drogas. Ninguém tem o direito de julgar, muito menos antes de conhecer a forma belíssima como vidas mudaram em virtude da arte de Peter Steele. Eu vi tais mudanças acontecerem. Vi gente que encontrou de forma quase messiânica nas letras absurdas da banda força para erguer a cabeça e se reinventar, se dando o verdadeiro valor. E hoje, vendo o fim, me resta o saudosismo. Me resta saber que a arte é a linda herança deixada por Pete. Me resta saber que "nascemos póstumos", e que, como dizia o próprio Pete...
[Love You to Death]

1962 - 2010

Tudo Morre.

domingo, 18 de abril de 2010

Meme da Dayane

INDICAR O BLOG QUE TE ENVIOU: Pensaela
COLOCAR APENAS 1 RESPOSTA EM CADA PERGUNTA.
REPASSAR A BRINCADEIRA P 10 BLOGS (hehehe, faz quem quiser, assim como a Day disse.).
E AVISAR OS BLOGS QUE RECEBERAM O SELO.

Perguntas:

QUAL SEU NOME?
H. 0.9 (quem me conhece, sabe).

ONDE NASCEU?
São Paulo - SP.

DIA E MÊS DE NASCIMENTO
12 de outubro.

SIGNO
Libra (com ascendente em Capricórnio, Lua no céu, geralmente à noite, e sol no meio do sistema solar - Não acredito nessas coisas...)

COR PREDILETA
Preto (uma vez Dark, sempre trevoso).

PROFISSÃO
Professor (diversas disciplinas, incluindo inglês, turismo e o que mais for necessário).

SEU ATOR PREFERIDO
Sou bastante ignorante em relação a cinema, mas admiro Johnny Depp.

SEU FILME PREFERIDO
O último que vi e gostei (repito ser um ignorante cinematográfico) foi "Dracula de Bram Stoker".

MÚSICA DA SUA VIDA
No momento, "Der Brandtaucher"/"Wir Moorsoldaten" do Rome e "Haus der Lüge" do Einstürzende Neubauten.

SEU CANTOR OU GRUPO PREFERIDO
Einstürzende Neubauten, Laibach, Rome, Diamanda Galás, Ordo [Rosarius] Equilibrio, Madeleine Peyroux, The Cure... Não consigo elencar um só.

SE FOSSE VIAJAR QUAL PAÍS ESCOLHERIA
Alemanha. Leipzig, mais especificamente.

TIME DO CORAÇÃO
São Paulo Futebol Clube (mas sempre há o ABC de Natal - Meu time honorário).

SE VOCÊ PUDESSE CONTROLAR OS PROGRAMAS DA TV O QUE VOCÊ DETONARIA PARA SEMPRE?
Odeio TV.

QUAL O NOME DO SEU BICHO DE ESTIMAÇÃO
Prince Sniff Amir de Kinjan, mas as pessoas geralmente se referem a ele somente como Sniff. Meu cachorro cérbero.

QUAL SEU LEMA
“Às vezes, só a violência faz o sistema funcionar” - Ann Nocetti.

VOCÊ TEM UM SONHO DIFICIL DE ALCANÇAR
"Eu quero" significa "eu consigo".

O QUE VOCÊ ACHA BONITO FISICAMENTE NO SEU AMOR
Não tenho amor (nossa, que triste, não é? Huhauhauah)...

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Momentos
nos quais
me permito a
um pouco de futilidade
...

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Eu aprendo

(ou Reflexo de Não-Mais Escondidas Cicatrizes)

[Ana Carolina: "Vox Populi"]

Eu aprendo que a matemática que leva o ser humano a ter olhos e ouvidos em pares, enquanto a boca vem em carreira-solo, faz muito sentido no que diz respeito à freqüência no uso de tais extensões da anatomia.

[Ozzy Osbourne: "I Don't Know"]

Eu aprendo que o conhecimento é bom. E se souber se disfarçar em ignorância e estupidez, ele pode ser melhor ainda.

[Death: "The Philosopher"]

Eu aprendo que sabedoria sabe ser sacana, e se amplia enquanto se diminui (ou vice versa). E, se sábio, eu saberia, sigilosa e saudosamente, “ser isso socrático”.

[Laibach: "Jesus Christ Superstar"]

Eu aprendo que santos não são representações da Divindade, mas exemplos da possibilidade de alcançá-la preso à condição humana. E também aprendo que quem definiu, dentro de tal contexto, o que me é divino, bom ou mau não fui eu, e por esta razão, não desejo para mim tal santidade. Aprendo que isso pode fazer de mim um herege perante olhos que desejam tal glória, mas se os detentores destes trouxerem à minha presença um sorriso franco em vez de pedras e palavras duras, não hesitarei em abraçá-los com um sorriso igualmente verdadeiro.

[Iced Earth: "Harbinger of Fate"]

Eu aprendo que, muitas vezes, palavras duras são o melhor alento que alguém que se perdeu em labirintos formados pela condescendência excessiva pode receber. Mesmo que esse alguém seja eu.

[Rome: "Wir Moorsoldaten"]

Eu aprendo que a liberdade se faz presente quando o quinto parágrafo de um texto nega o quarto, e eu não me importo com isso a ponto de reescrevê-los, alterando sentimentos e pensamentos em prol da semântica, gramática ou concordância verbal/nominal/lógica.

[Red Hot Chili Peppers: "Under the Bridge"]

Eu aprendo que, por pior que Josef Stálin ou qualquer outro russo (ou russa) tenha sido, ler Dostoievski e ouvir Tchaikovsky não me aproxima negativamente de tais personalidades.

[Maria Rita: "Dos Gardenias"]

Eu aprendo que identificação estética é algo que passa a anos-luz de distância de identificação ideológica. E também aprendo que 85% da população ignora em absoluto este fato, e mataria por tal equívoco.

[Comando Blindado: "Volta CCC"]

Eu aprendo que o ódio que existe no indivíduo desde a mais tenra idade, e que é culturalmente alimentado, pode se dissipar no momento em que uma pessoa de sangue libanês brinda sua Heineken com uma pessoa de sangue judeu. E ambos sorriem, sem se importar com o que seus consangüíneos fazem no Oriente Médio.

[this Mortal coil: "My Father"]

Eu aprendo que liberdade é afirmar odiar Shakespeare e criar um texto com base em sua obra.

[Lacrimosa: "Stolzes Herz (Piano Version)"]

Eu aprendo que há ritmos de vida diferentes, e que o fato de eu respeitar o ritmo alheio nem sempre levará as pessoas a respeitar o meu. Mas ainda assim, eu poderei ser arrogante e dizer que tentei e estava com a razão.

[Type O Negative: "My Girlfriend's Girlfriend"]

Eu aprendo que dizer a verdade não é algo tão simples para muitas pessoas. E elas que aprendam, afinal, eu não posso aprender todas as verdades do universo, e tenho (dentro de meu egoísmo legitimado por mim mesmo) o pleno direito de me enfurecer com a mentira e as tentativas (geralmente infrutíferas) de me ludibriar. Aprendo que isso pode não ser de fato amor-próprio, porém, é parte de mim e me é de direito desejar manter tal aspecto de minha personalidade.

[Diamanda Galás: "Je Rame"]

Eu aprendo que a perfeição é desagradável, e que há defeitos extremamente divertidos. Muitas vezes, a amoralidade é um deles. Não aprendi ainda se a amoralidade é de fato um defeito ou a ausência deles. Mas, como dito anteriormente, não posso aprender todas as verdades do universo.

[Corpus Delicti: "Atmosphere (Joy Division Cover)"]

Eu aprendo que gosto de aprender, às vezes mais sobre Calvinismo, psicanálise e gardênias; às vezes mais sobre hotelaria e magia branca; às vezes mais sobre rugby e a cena alternativa de Seattle nos anos 90, e às vezes mais sobre cervejas belgas, música irlandesa e culinária Kosher. Mas estou sempre aprendendo (comentário realizado com o intuito de terminar o texto cinicamente, de forma infantil, inocente e com "síndrome de senso-comum". E seguindo tal tendência mainstream blogger...).

[The Doors: "The End"]

E você, aprende ou estagna?

domingo, 28 de março de 2010

Gentrificação da Essência Artístico-Sentimental

(ou Indignação com os Rumos da Arte)

A trajetória poética de Oiticica desloca-se da fatura impecável, quase asséptica, de sua produção inicial, marcada pelo "construtivismo" internacional, para um "construtivismo favelar". Essa chegada ao Brasil pela via universalista da invenção formal "concreta" e "neoconcreta" consuma-se como o escultor Jackson Ribeiro o leva ao Morro da Mangueira, no Rio de Janeiro. "Tudo começou com a formulação do Parangolé em 1964, com toda a minha experiência com o samba, com a descoberta dos morros, da arquitetura orgânica das favelas cariocas (e consequentemente outras, como as palafitas do Amazonas) e principalmente das construções espontâneas, anônimas, nos grandes centros urbanos - a arte das ruas, das coisas inacabadas, dos terrenos baldios etc. Parangolé foi o início, a semente, se bem que ainda num plano de idéias universalista (volta ao mito, incorporação sensorial etc.), da conceituação da Nova Objetividade e da Tropicália."

"Hélio Oiticica - Museu é o Mundo"
Curadoria

[Madball: "Tight Rope"]

Construtivismo favelar? Arte das ruas? Terrenos baldios? Todos esses termos me remetem às camadas menos abastadas da população, quando penso em Brasil. Quando ouço nomes como Billie Holiday e Nina Simone nas rodas intelectuais regadas pelos melhores vinhos e mais belos cartões de crédito e talões de cheques, me indago sobre a incoerência desta relação. Incoerência? Não compreendeste de qual relação falo? Ou em que consiste tal incoerência? Pois bem...

[Agnostic Front: "Victim in Pain"]

Seria o destino da arte uma espécie de "desvio de carga"? Porque vejo com grande pesar a forma bizarra com a qual representações artísticas oriundas das favelas (não espera tu terminologias politicamente corretas; não lerás aqui "comunidades humildes" ou quaisquer outras formas de hipocrisia, salvo em forma de ironia) e dos marginais (indivíduos à margem da sociedade, geralmente execrados como escória) adentram os meios drapejados de diamantes (pedras preciosas de alto valor financeiro, geralmente conseguidas às custas do trabalho semi-escravo em Serra Leoa, por exemplo), e, por consegüinte, se descaracterizam.

[The Clash: "London Calling"]

"Mas esse rapaz só pode ser um extremista fundamentalista ou um retrógrado conservador, fechado em seu mundo de arte marginal." - Será?

[Type O Negative: "Halloween In Heaven"]

Não me refiro à hermetização da arte, mas à tristeza existente em sua gentrificação¹. A arte de Hélio Oiticica, por exemplo, é claramente inspirada na realidade dos morros cariocas e ambientada na pobreza; e hoje, passados trinta anos de sua morte, encontra-se envolvida por uma aura que, definitivamente, não reflete a favela. Mas a questão é: quantos moradores do Morro da Mangueira admiram este seu ilustre & falecido admirador? Ou de tantos outros "Morros da Mangueira" espalhados por este país? - Quantos dos que conversam em bares caríssimos sobre a genialidade de Billie Holiday ou a beleza inebriante da voz de Nina Simone sabem do que se trata a tristeza inerente em suas interpretações? Quantos possuem na memória as marcas semelhantes às que deram origem a tais obras irrepreensíveis, como "Strange Fruit", de Simone?

[Rudi: "Taivas Saa Odottaa"]


Compreende-se não ser possível manter a arte, ou seja qual for a expressão de sentimento, em um claustro eterno, e sequer creio ser esta uma atitude coerente. Mas a apropriação realizada por A e B, e a conseqüente exclusão de C, D e E me é inconcebível. Me entristece não possuir as ferramentas para tal atitude, digamos, revolucionária (ou terrorista), mas as palavras de ordem são: "Toma para ti o que é teu de direito!".

[Paul Cantelon: "Sunflowers"]

Esquerdista? Terrorista? Não. Simplesmente verdadeiro.

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¹. O enobrecimento urbano, ou gentrification, diz respeito à expulsão de moradores tradicionais, que pertencem a classes sociais menos favorecidas, de espaços urbanos e que subitamente sofrem uma intervenção urbana (com ou sem auxílio governamental) que provoca sua valorização imobiliária.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Trompetes e Saxofones Misantropos de Miles Davis & John Coltrane

(ou Um Breve Ensaio sobre a Misantropia)

[Ana Carolina: "Hoje Eu Tô Sozinha"]
Como suponho que o título revele, este texto não traz grandes floreios sobre as responsabilidades sociais, tampouco discorre a respeito dos problemas do mundo. Trata-se de uma disgressão acerca do eu. O ego, mais seu centro que suas periferias; o egocentrismo e a misantropia (Em tempo - Misantropia: s.f. Horror à criatura humana; aversão à sociedade.).

[Madeleine Peyroux: "Careless Love"]

O fato é que há muito de nós que não nos é inato (percebe, caro leitor, a tendência ao social? Acabo de afirmar que o texto trata do "eu" e engendro, logo de cara, um "nós" em meio às linhas pseudo-misantropas. Mas tem paciência, rogo-te). Quanto não nos é adicionado ao longo de repetidas mentiras e atrasados conceitos, deliberadamente jogados perante nossos olhos, derramados em nossos ouvidos e empurrados glote, epiglote & traquéia abaixo? Todavia, mais preocupante é: Quanto disso não nos é absorvido por vontade própria, e assimilado ao que costumamos corriqueiramente chamar de "eu"?

[sigur rós: "Milanó"]

Pode-se dizer, então, que a partir do momento que este processo se dá com uma parcela considerável de humanos que compartilham de um mesmo território e, teoricamente, de uma mesma cultura, surge algo como uma "consciência coletiva do que é certo, errado, censurável e passível de morte por fuzilamento". A isso se convencionou chamar "Ética" (substantivo). E, a tudo que foge a tais padrões, "Anti-ético" (adjetivo).

[Marilyn Manson: "Coma White"]

O EGOÍSMO É ANTI-ÉTICO.

[300,000 Verschiedene Krawalle: "Transcendental Storm"]

Mas o sacrifício, o martírio, a pobreza e o sofrimento são eticamente louváveis. Acredito ser um contra-senso perguntar a razão de um por quê coletivo em um texto abertamente voltado ao âmbito do indivíduo (mesmo já tendo apelado a termos como "humanos", "compartilhar", "coletiva" dentre outros, mas anteriormente roguei-te paciência, caro leitor), então, que haja, enfim, um direcionamento para tantos rodeios acerca das coletividades individuais ou individualidades coletivas dessa famigerada ética e de sua relação com o egoísmo.

[Laibach: "God is God"]

O fato é que, abandonando qualquer senso de justiça, moral, ética ou conceito social, abraço (sim, eu, H.) afetuosamente a mais eticamente execrável das vicissitudes: do amor ao próximo para o horror social. Da benevolência à crueldade sádica. Da devoção ao desprezo. Do perdão ao esquecimento. Ou (creio ser esta a mais perfeitamente clara descrição) do outro para o eu. Em outros tempos, explicar-me-ia a respeito de razões ou justificativas para tal, mas hoje, não me é necessário. Minha vontade e minha consciência me guiam por onde quer que eu me atreva a pisar, e desta forma, torno-me mais uma vez senhor de meu destino e ações. "Nada permanece.
Nada me prende aqui." - já dizia Tilo Wolff. E toda a supracitada exposição sobre os conceitos sociais, a ética e todo o enfadonho deste ensaio nada mais foi que um pano de fundo, uma cozinha de jazz, com o piano, a bateria e o contrabaixo sociais; para que Miles Davis & John Coltrane pudessem solar seus trompetes e saxofones misantropos.

[Laibach: "Krst Pod Triglavom"]

Correto? Impetuoso? Belo? Reprovável? Talvez, mas quem julga? Mary Shelley apesentou o criador que vira as costas para a criatura. Quem é o monstro e quem é a vítima? Mas, mais importante que isso é: Se és o monstro, a quem deve tu pedir perdão? Deve tu pedir perdão?

[Vomito Negro: "Escape"]

Não. Não mais.