domingo, 23 de janeiro de 2011

Dysangelium

(ou Sobre o Feio, o Triste, o Incômodo, o Mau e o Apático)
[Therion: "Wine of Aluqah (Live)"]
Ah, a arte. A arte e seus ideais. Ideais de beleza. Beleza e perfeição. Perfeição clássica. Clássicos gregos, romanos e... Há algum outro? Outro conceito imutável e perfeito? Perfeito como a definição dos músculos e feições do Adão de Michelangelo na Capela Sistina? Capela que é agradável aos olhos e incita sentimentos bonitos, felizes, cômodos e bons a todos. Não? (Oh, céus, será este o prelúdio de mais um texto enfadonho sobre a relatividade da beleza, a hermenêutica e outros conceitos técnicos, com palavras rebuscadas, tão interessantes quanto dançar com a irmã mais nova??? Dai-me paciência para ler isso até o fim...)
[Massive Attack: "Butterfly Caught"]
Incômodo.
Esta é a palavra que rege o presente texto.
A tônica, diria eu.
Simplesmente por se contrapor à que rege o que não me agrada:
A inércia.
[Coquetel Acapulco: "Campo Minado"]
Cansado do feio do dia, do triste do cotidiano e do incômodo presente na vida adulta, acabo preferindo o vazio da mentira. Mentira que engorda, atrofia as articulações e leva à hipertensão. Por isso, voto na dor. Voto em tudo o que incomodar. Tudo o que fizer movimento, e causar movimento. Porque sou mimado e não quero ninguém dormindo. Não enquanto há algo que possa ser feito para minimizar a existência do feio, do triste, do incômodo e do mau, e desta forma, a necessidade de sua atuação na vida.
[Lucio Dalla: "Caruso"]
Sê sempre disseminador do Dysangelium...
_________________________________________________________________
E mais uma vez, o Blogger não está colaborando. perdão pela formatação desagradável. Html, um dia beijarás meus pés...

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Memento Mori

(ou Quando Mesmo os Sorrisos Machucam)

[Milionário & José Rico: "Sonho de um Caminhoneiro"]

Ele abre a boca, mas as palavras não vêm. Elas permanecem. Permanecem dentro dele, criando um vórtice, aquela úlcera aguda, esta espiral mortal que gera desespero a mais ninguém a não ser o próprio. E ele segue. Segue desta forma, caminhando pelo caminho dos bons e dos corretos, pois a dor de ferir a outrem pode ser mais insuportável. Se suportara a de ser o pária por tantas vezes, porque não poderia ser esta a cruz à qual o Senhor Seu Deus lhe houvera designado? Não há cruz mais pesada do que o que podemos suportar. Assim é. Assim sempre foi. Assim.

[Sigur Rós: "Hafsól"]

Mas o que poderia acontecer se a boca se abrisse e os feixes, tiros, palavras ou sabe-se-lá-o-quê, atingissem às pessoas deliberadamente, não importando nome, parentesco ou suposta participação especial na novela de sua vida? Seria o início do fim? A descaracterização, talvez? A destruição, quem sabe? Só Deus sabe. Só Deus sabe? Infelizmente, a relação de ambos não era das melhores, e mais infelizmente, Deus paradoxalmente não havia lhe dado muita fé. Então, desprezando as tradições, abandonando as crenças, seguindo um controlável, mas não desejável, desejo iconoclasta... A boca se abre e as cruzes se quebram. Que haja misericórdia...

[Chandeen: "Love at First Sight"]

Verdades, dolorosas verdades, vêm à tona. Faces mais tenebrosas que as presentes nos piores pesadelos passam a ilustrar o semblante daqueles que por tantas vezes pareceram simples títeres do Senhor do Escárnio. E, pela primeira vez, ele sente ódio, e não se sente mal por isso. É orgânico. Verdadeiro. Arremessa a cruz que sempre carregou com tanto pesar e esmaga o crânio do primeiro inocente que lhe cruza o caminho. Inocente? Há inocentes? Ele se lembra que todo ser humano nasce manchado pelo pecado original de Eva & Adão; e se lembra que isso é o que dizem os que seguem a Moisés, Abraão & Jacó; e se lembra que a coerência é um grilhão - mais um - a ser quebrado. E o quebra! Graças a Deus!


[Sari Ska Band: "Emo"]

A dor permanece. Talvez, seja a dor da exposição ao sol, citada por Platão em sua historinha da caverna. Quem sabe, seja a falta de costume de caminhar sem os grilhões originais. Talvez, seja o peso de caminhar sozinho, visto que cruzes, por maiores e mais pesadas que possam ser, de certa forma, bancam as companheiras por vezes. Talvez seja o fardo que poucos ousam carregar. O de ser quem se é.

[Seán Ó Riada: "Ghaoth Aneas"]

Memento mori...
Se quiseres manter tua dor, porém, de forma autêntica.
___________________________________________________________________
O trabalho tem me impedido de postar e comentar em seus blogs com maior regularidade. Peço perdão e espero que saibam que admiro muito os que aqui estão linkados. Sorrisos no coração de todos!!!