sábado, 30 de abril de 2011

KAWA TON AAYMONA EAYTOY

Você é um exemplo. E daí? Sua inteligência tão aclamada não lhe tira do vórtice hermético baseado no Eterno Retorno, então, de que esta lhe vale? Sua bondade e retidão lhe renderam a arrogância que lhe é cara, e afasta mais determinadas chances de sucesso; seu caráter trouxe arrependimento pelo tempo desperdiçado, dedicando-se a quem não merece sequer o olhar, que dirá o pensamento. Tal caráter lhe garantiu, além disso, algumas rugas. Sua preocupação com os outros, e seus sentimentos, valores e tudo o mais, só lhe fazem afundar mais. Não se sabe se é o peso dos outros se apoiando sobre seu perfeccionismo, ou somente o reflexo de sua falta de tempo para se exercitar, que está gerando uma forma esférica, adiposa e aberrante. No geral, o resultado não se altera muito, a despeito das táticas do jogo - Tudo se resume a correr em direção ao nada novamente e novamente e novamente e novamente e novamente e novamente e novamente e novamente e novamente e novamente e novamente e novamente e novamente novamente e novamente e novamente e novamente.

Dá-me o uísque mais forte, e o cigarro mais saboroso. Nada há de se alterar, mas o arrependimento já preenche muito desta vida para que considerações sobre como vivê-la se apresentem como as algemas da vez.

Dada.

domingo, 3 de abril de 2011

Cotidiano Propositalmente Repetitivo

(ou Ébrias & Amargas Considerações)

É passada a hora das escolhas. Não há sentido em se manter dentro de sonhos que não cabem ao mundo real, a não ser como acalento para a dureza cotidiana. Tapas na cara devem deixar de ter a capa de agressões e passar a ser vistos e compreendidos como parte integrante do dia-a-dia. Como a injeção necessária e cotidiana do hemofílico. Acostumar-se com a dor, fazer dela parte do cotidiano, faz do indivíduo mais capaz de compreender os resultados da resistência e a "realidade da realidade". É cotidiano.

[Chico Buarque: "Pedaço de Mim"]

E o sorriso falso que se torna obrigatório e, por conseqüência, cotidiano em nossas relações mundanas e superficiais, passa a ser uma regra, até que não se saiba mais o que é real e o que é meramente burocrático. Até que não se saiba mais quem é homem e quem é porco. Isso é necessário à sobrevivência. É necessário para que o ser humano saia do ostracismo e do lamaçal faminto por fracassos e repetições tão úteis quanto uma rua sem saída para um fugitivo da polícia. Ou isso, ou o eterno retorno ao vórtice da inutilidade, do fracasso e da perfeição inatingível. Uma perfeição que está no cotidiano de todo cidadão. Mas não no seu.

[Ludov: "Da Primeira Vez"]

Então, fica assim combinado: Tudo o que trouxer dor, porém se revelar formoso perante os olhos que julgam e condenam, será proclamado belo, aceito e obrigatório. Então, fica assim combinado: Tudo o que for de quietude para a alma, mas se apresentar como inutilidade para os mestres dos fantoches, deverá ser sumariamente proibido. Desta forma, cria-se a vida perfeita, amarga como o mais forte e puro café e absolutamente desprovida de qualquer mágica. Mas quem se importa com a mágica? Este é um mundo de adultos.

[Franz Listz: "Rapsódia Húngara"]

A criança cresceu...
E se tornou "confortavelmente entorpecida".