quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A Explosão

(ou "It's better to burn out than to fade away" - Neil Young)

[Chandeen: "Dawn"]

A explosão. Algo que, subitamente, cresce de maneira em geral inesperada, em velocidade maior que a supostamente coerente e, geralmente, causa estragos (a não ser que o assunto seja o milho que explode e se transforma em pipoca). As explosões, tão apreciadas pelos roteiristas de Holy Wood, possuem lá seu valor. Elas têm sua importância. O que seria das grandes empreiteiras sem elas? Empresas de demolição, então?? Terroristas??? Homens-bomba???? De fato, um mundo sem explosões é, de certa forma, impensável. Mas, e quanto ao ser humano normal-cotidiano-do-dia-a-dia-diário-e-semanal? Qual é a importância da explosão na vida deste ser?

[Madeleine Peyroux: "River of Tears"]

Certa vez me foi dito que as coisas somente atingem o auge de sua importância quando não estão mais entre nós [descanse em paz, meu querido cão], então, creio ser mais fácil compreender a real dimensão da explosão na vida analisando uma que não a possua. Sim, uma vida sem explosões.

[Racionais MC's: "Diário de um Detento"]

Na construção civil, as explosões geralmente eliminam prédios defeituosos e empreendimentos que não deveriam estar onde estão. No ser humano, é semelhante. Sentimentos distorcidos, propensões a cânceres, rancores, mágoas e dores em geral são expurgadas através da explosão. Sim, o ataque de fúria. A irracionalidade. O descontrole. Enfim, a explosão. Esta vem naturalmente acompanhada de alterações na voz, na expressão facial, no ritmo cardíaco, e costuma ser sucedida por lágrimas copiosas, que conforme Júlio Cortázar, vêm acompanhadas de muco ("este no fim, pois o choro acaba no momento em que a gente se assoa energicamente"¹). Sem esta nauseante, todavia assaz natural seqüência à qual todos estamos sujeitos, advém a dor. Não há explosão. Advém a mágoa. Não há explosão. Advém o câncer.

[Laibach: "Drzava"]

Todos os terrores que poderiam ter ferido inocentes são contidos. Não há explosão. Nenhuma pedra desaba. O corpo padece, o cérebro implora pela alforria do controle absoluto, mas a disciplina mantém a coluna reta, as botas brilhando, a farda engomada e a explosão silenciada. Não há explosão. Em nome da... Em nome do quê mesmo??? Ah, sim, do altruísmo, da bondade e da resiliência. As vidas ao redor continuam, inabaladas por aquela explosão que não ocorreu. Não há explosão. Mas o que não explode, implode. E mesmo novos prédios caem. Não há explosão. Haverão, ao acaso, balas de canhão em honra da vida que não explodiu, mas desapareceu aos poucos? Não há explosão. A vida que desaparece aos poucos é como o membro lentamente corroído pelo verme, pela chaga, pelo tumor; a pele lentamente dominada pelo vitiligo. Somente quem a vê todos os dias se dá conta de seu desaparecimento. Somente quem tem os pratos da balança pendendo cada vez mais para o lado da leveza, enquanto o algoz ganha quilos de gordura com seus mantimentos, sabe e reconhece a violência do verme devorador... E a necessidade da explosão do expurgo. Mas não há explosão.

[Einstürzende Neubauten: "Die Explosion im Feistpielhaus"]

Aber es gibt keine Explosion.
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¹CORTÁZAR, Júlio in Histórias de Cronópios e de Famas.

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Em virtude de minha pouca paciência e tempo, associadas à má vontade do Blogger, as próximas postagens não terão a tradicional formatação. Agradeço a compreensão.