sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Memento Mori

(ou Quando Mesmo os Sorrisos Machucam)

[Milionário & José Rico: "Sonho de um Caminhoneiro"]

Ele abre a boca, mas as palavras não vêm. Elas permanecem. Permanecem dentro dele, criando um vórtice, aquela úlcera aguda, esta espiral mortal que gera desespero a mais ninguém a não ser o próprio. E ele segue. Segue desta forma, caminhando pelo caminho dos bons e dos corretos, pois a dor de ferir a outrem pode ser mais insuportável. Se suportara a de ser o pária por tantas vezes, porque não poderia ser esta a cruz à qual o Senhor Seu Deus lhe houvera designado? Não há cruz mais pesada do que o que podemos suportar. Assim é. Assim sempre foi. Assim.

[Sigur Rós: "Hafsól"]

Mas o que poderia acontecer se a boca se abrisse e os feixes, tiros, palavras ou sabe-se-lá-o-quê, atingissem às pessoas deliberadamente, não importando nome, parentesco ou suposta participação especial na novela de sua vida? Seria o início do fim? A descaracterização, talvez? A destruição, quem sabe? Só Deus sabe. Só Deus sabe? Infelizmente, a relação de ambos não era das melhores, e mais infelizmente, Deus paradoxalmente não havia lhe dado muita fé. Então, desprezando as tradições, abandonando as crenças, seguindo um controlável, mas não desejável, desejo iconoclasta... A boca se abre e as cruzes se quebram. Que haja misericórdia...

[Chandeen: "Love at First Sight"]

Verdades, dolorosas verdades, vêm à tona. Faces mais tenebrosas que as presentes nos piores pesadelos passam a ilustrar o semblante daqueles que por tantas vezes pareceram simples títeres do Senhor do Escárnio. E, pela primeira vez, ele sente ódio, e não se sente mal por isso. É orgânico. Verdadeiro. Arremessa a cruz que sempre carregou com tanto pesar e esmaga o crânio do primeiro inocente que lhe cruza o caminho. Inocente? Há inocentes? Ele se lembra que todo ser humano nasce manchado pelo pecado original de Eva & Adão; e se lembra que isso é o que dizem os que seguem a Moisés, Abraão & Jacó; e se lembra que a coerência é um grilhão - mais um - a ser quebrado. E o quebra! Graças a Deus!


[Sari Ska Band: "Emo"]

A dor permanece. Talvez, seja a dor da exposição ao sol, citada por Platão em sua historinha da caverna. Quem sabe, seja a falta de costume de caminhar sem os grilhões originais. Talvez, seja o peso de caminhar sozinho, visto que cruzes, por maiores e mais pesadas que possam ser, de certa forma, bancam as companheiras por vezes. Talvez seja o fardo que poucos ousam carregar. O de ser quem se é.

[Seán Ó Riada: "Ghaoth Aneas"]

Memento mori...
Se quiseres manter tua dor, porém, de forma autêntica.
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O trabalho tem me impedido de postar e comentar em seus blogs com maior regularidade. Peço perdão e espero que saibam que admiro muito os que aqui estão linkados. Sorrisos no coração de todos!!!

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